segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Meu Primeiro Amor

Ao chegar à um lugar, onde tudo era novidade, eu o vi.

Ele tinha os cabelos bem pretos, e os olhos pareciam ter um kajal natural.
Era gordo, e mais alto que a maioria dos meninos de 10 anos de idade.
Ele era o 'chefão', todo mundo fazia tudo o que ele mandava, e as brincadeiras só tinham graça quando ele brincava, o boca de forno só era divertido quando ele era o dono da boca, e as mamonas só voavam se ele estivesse. Ele nunca era pego no pega-pega, ou achado no pique-esconde. Ele era naturalmente mal-educado, e ao mesmo tempo respeitava os mais velhos, sempre fazia piadas e ria das coisas imbecis que as outras crianças faziam, ele era demais.
Eu só tinha gostado de um menino antes dele, quando eu era 1ª série, o nome dele era Robson, e estava escrito em todas as paredes as quais eu tinha acesso, mas quando fui pra 2ª série, eu nunca mais o vi.

Quando eu cheguei no bairro novo, fiz poucas amizades, eu era a líder no outro bairro, chegar num lugar que já tinha um líder, era complicado pra mim, ainda mais se esse cargo fosse ocupado por alguém que tinha um pinto.
Eu ficava da janela gradeada do apartamento novo olhando as outras crianças brincarem, e eu com certeza me lembro bem do dia que sai de casa pela primeira vez.
Eles me olhavam com uma curiosidade que era absurda, uns tocavam no meu cabelo, outros torciam a boca, e lá estava eu, sem camisa, de bermuda e descalça, como uma verdadeira bárbara.
A primeira brincadeira que ele sugeriu foi 'boca de forno'.
Eu aceitei brincar, por que já que tinham um líder, talvez precisacem de um braço direito.
Se apresentaram, ele foi o primeiro, na época se apresentou como 'Tunico', tinha um Luan, que chamavam de barata, um Tiago, que chamavam de Pirica, e uma menina que morava no último andar do meu prédio, Danielinha. Eu e minha irmã nos apresentamos também, e então tudo começou.
Ele gostava de ser líder, tinha isso bem claro. Era sempre assim 'ou é do jeito que eu quero, ou eu não brinco'.
Enfim, todos faziam o que tinha que ser feito. Das primeiras vezes que brincamos, eu tomei algumas chineladas bem doloridas nas palmas das mãos, e até apanhei mais, quando xingava os outros meninos de viadinhos, ou de cornos. Então, me percebi a paixão, sempre me deslocava pro outro prédio, assoviava para chamá-lo, e ficava atenta ao mínimo barulho de chaves, ele era o único garoto que tinha as chaves de casa. Resolvi mandar uma carta dizendo que o amava, e que se ele me amasse, iríamos nos casar, ele já tinha 12 anos, e eu só tinha 8, ele amostrou a minha carta para os outros garotos, e minha mãe acabou sabendo o que eu tinha feito. Fiquei de castigo a semana inteira, e eles vinham me chamar, e ficávamos horas conversando da janela. Sempre era proibida de sair de casa se minha mãe não estivesse, e com certeza, a coisa mais difícil, era ela estar em casa, e acredite, eu sempre saía. As vezes fechava a porta com a chave dentro de casa, meus agora amigos, me ajudavam a entrar em casa antes de minha mãe chegar. Fui crescendo, enfim, ele me notou. Eu era 6ª série, e era amiga da Mari, uma menina que morava no prédio dele, e era o nosso pombo correio. Nós nos olhávamos muito nos olhos, e aquilo passou a ser uma constante, mesmo enquanto nos batíamos nas brincadeiras que sempre faziam suar e correr muito, não sei exatamente se começou quando tive que usar camiseta pra sair, ou quando tivemos todos a segunda febre de bicicletas. Sempre íamos à oficina em bando encher pneus.
Acho que só percebi que eu queria que ele me quisesse no dia do 'verdade ou consequência' . Erámos 4. Eu, ele, o menino do outro prédio e a outra menina do outro prédio. Eu nunca tinha beijado na boca, e sabia que ela já beijava há muito mais tempo do que eu, ela beijou os 2, a noite inteira, e eu tinha medo de não saber beijar.
Comecei a treinar na laranja, no copo de gelo, no braço, na minha irmã, que inclusive, dizia que meu beijo era uma merda. O medo continuou, e eu me tornei uma dependente de revistas teens, e de simpatias do beijo, e de tudo que envolvesse romance pelo meio. Certa feita, minha amiga ficou aqui em casa até tarde comigo estudando, e depois eu fui com minha irmã e ele levar ela em casa, eram alguns minutos de distância daqui de casa, só que a mãe dela já estava dormindo, e não ouviu logo quando a gente chamou, passamos uns 20 minutos gritando na porta da casa, e enfim, alguém naquela casa acordou. Voltamos rapidíssimo pra casa, e quando eu cheguei, fui chamada de vagabunda, e ganhei um belo tapa na cara. Eu nunca tinha nem se quer beijado na boca, mas não adiantava dizer isso, ela não ouvia nada, ela só gritava. Na 7ª série, minha irmã do meio nº 2 veio passar o final de semana aqui em casa, nós colocamos ela pra contar, e fomos nos esconder. Era maio, e junho, ele sempre viajava, passava no mínimo 2 semanas em algum lugar, que eu nunca perguntava. Era o nosso último dia juntos antes dele viajar, e eu que sempre mentia para os garotos quando perguntavam se eu era BV, tive que contar, para o garoto que estava bem na minha frente, que eu nunca tinha beijado ninguém, ele riu, disse que não se importava com isso, que ainda bem que eu tinha esperado ele pra me beijar, eu tinha 13 anos, estava atrás do prédio, e sentia um cheiro que até hoje me lembro, não era perfume, era o cheiro dele, da roupa dele, de tudo que ele era e representava pra mim, naquele momento, eu soube, que sempre seria dele não importava o que acontecesse ao longo da minha vida.
Minha mãe sempre soube que eu e ele tínhamos algo diferente, pois já não éramos tão crianças para brincar tanto de coisa infantil, sempre estávamos juntos, mesmo quando estavamos separados. Ela odiava a idéia de nós namorarmos, sabe se lá por qual motivo.
Um dia no aniversário de uma colega de escola, eu usei uma blusa que ficava um pouco transparente, e fui pra lá, mas a minha vontade o tempo todo foi vir escondido pra cá, e ficar com ele a noite toda, mas eu não podia fazer isso, liguei pra nosso pombo correio, e pedi pra ela avisar que eu ia descer mais cedo, pela ladeira do fundo, ele tinha chegado de viagem e nós ainda não tínhamos nos visto, eu sempre usava o cabelo metade preso, e tinha pegado escondido da minha mãe brincos grandes, e meu tamanquinho preferido, ele foi na frente do condomínio da minha amiga me buscar, e eu e ele caminhamos na rua e fomos  o fundo do prédio de mãos dadas, aquilo pra mim, era novidade, sempre vivemos brigando, e de repente estavamos juntos, como nunca, ou sempre estivemos.
Ficamos juntos alguns minutos, algo como 30, 40 minutos, e foi subindo a ladeira dos fundos, que eu disse pra ele que não importava quanto tempo aquilo durasse, mas que seria eterno. Quis falar do amor que sentíamos um pelo outro, que mesmo que alguém quisesse nos separar e esse alguém conseguisse, eu seria dele pra sempre, e sempre me lembraria dele como naquele momento.  Foi assim que nos despedimos naquele dia. No outro dia, uma mancha avermelhada no meu pescoço, acabou com minha vida naquele momento. Eram sinais dos beijos calientes da noite passada, e na minha plena inocência, eu falei que achava que algum bichino tinha me picado. Minha mãe, e sua mente altamente nociva, como sempre, logo entendeu que bicho tinha me mordido. Ela gritava comigo, como se eu tivesse cometido um crime, me xingou dos piores palavrões que se possa imaginar, rasgou minha roupa, enfim, um verdadeiro inferno. E eu juro, que nada além de beijos tinham acontecido. Eu já tinha 14 anos, e não podia sair de casa, meus amigos, sempre perguntavam por que, e eu só dizia:  Porque minha mãe não deixa. Eles sempre estavam na janela comigo, as vezes, eles ficavam vigiando, e quando minha mãe chegava, eles me avisavam, meu bem querer saia correndo, e eu fingia que estava estudando. Eu escrevia tudo no meu diário, tudo o que eu sentia, tudo o que eu sonhava, e com certeza, eu só queria saber por que eu sentia aquelas coisas, minhas pernas tremerem, minhas mãos suarem, um medo de alguém que eu amava, e a vontade de me entregar à tudo aquilo que eu não conhecia. Mais uma vez, gritos, palavrões e roupas rasgadas, Alguém havia lido minhas coisas, e com certeza, não gostara do que estava escrito. Enfim, minha mãe resolveu se mudar daqui pra outra cidade, o marido dela achava que tinha mais oportunidade de trabalho lá. Foram os piores e os melhores momentos de minha vida. Eu sabia que talvez nunca mais fossemos ser como éramos. Sabia que tudo acabaria, então começamos a brigar por coisas bobas como as mentiras que eu contava sobre beijos antes de sequer ter beijado. Garotos inventados pra fazer ciumes, viagens mair frequentes, e ao telefone, sempre nos falávamos com o verdadeiro medo que isso tudo acabasse. Decidi que seria ele, o primeiro. Sentia que eu ia mesmo embora, e que não seria a mesma coisa nunca mais. Eu estava certa de que a vida nos levaria pra caminhos diferentes pra sempre, talvez nunca o tivesse, nunca mais poderia fazer aquilo. Era recuperação na escola, eu tinha ficado em 6 matérias. Estava esperando o ano acabar na casa de meu pai, e depois iria embora pra sempre. Eu sabia que naquele momento meu amor agonizava dentro de mim, e que ele morreria, eu saí da escola mais cedo, e eu estava decidida. Não sabia o que fazer, mas deixei as coisas acontecerem. E na outra semana, eu fui embora de vez.
 Passaram-se alguns anos, voltei a morar no mesmo lugar, e quase sempre o vejo, e o amor realmente morreu, só ficaram as boas lembranças daquele amor tão puro, o mais puro que já senti em minha vida.
E hoje, ouvindo as músicas daquela época, eu me lembrei de tudo isso.

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' apreciadora das artes de toda espécie, praticante da fé, dependente do amor.