quarta-feira, 16 de junho de 2010

Inês,

Não tinha malas, as roupas que tinha eram somente roupas que doamos à ela e a única coisa que ela tinha era um caderno e 2 compactor 0.7, uma azul, uma preta e canções.
Ela compunha canções, apesar dos erros de português na escrita, ela até cantava bem.
Lembro de uma frase que a ouvi cantar em uma das madrugadas que passamos em claro, pois além de tudo isso, a mocinha tinha insônia e escrevia a noite com a luz fraca do corredor que entrava por uma fresta que a porta entreaberta deixava passar...
Ela tinha os joelhos ásperos, dizia que de tanto ter encerado chão na vida e quando acordava, estalava o maxilar bocejando.
Minha mãe tentou adotá-la como filha, dividia tudo nosso com ela, (lembro quando ela ganhou uma boneca igual a nossa) mas não resistiu a mandá-la pra casa de minha vó quando viu que tudo que a garota tocava quebrava, até mesmo os garfos...
Ela dava sustos em mim, e em minha irmã, mascando beterraba e dizendo que estava sangrando, e que ia morrer...
Enfim, ouvindo Soweto, refém do coração, 1997, em lembrei de tudo isso, ou me lembrei disso apenas.
Inês, onde quer que você esteja hoje, que Deus lhe proteja.

Arquivo do blog

O melhor retrato de Deus, é a sua criação...

Minha foto
Brazil
' apreciadora das artes de toda espécie, praticante da fé, dependente do amor.